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Faculdades Santa Cruz – Curitiba – Pr
A exposição está situada na Biblioteca do campi Bonat

A Arquitetura Escultórica de Signos
Em 24/10/2010, por Pedro Moreira*.

A exposição Matéria Etéria, de Ana Godoy, trata principalmente do processo de criação da obra artística, de sua investigação de conceitos em arte que se relacionam direta e indiretamente em seu trabalho.

Quando se fala em processo criativo, deve-se compreender que a abordagem é a do surgimento da obra desde suas escolhas. As opções de materiais, formato técnico, meios a serem utilizados além da localização, experimentação objetiva, que compreendem os primeiros passos para a sua elaboração, os elementos precursores e a sua entrega sensível na construção. Considera-se também, a produção da artista vinculada ao tempo e ao impacto reflexivo e crítico, e em sua referência com o meio social onde a obra se estabelece.

O corpus estruturante da sociedade participa como evidência dessa materialidade, isto é, a obra não é feita para o esconderijo, mas para a sua mostra pública, levada a uma ambientação que, ao mesmo tempo que se apropria do olhar, reagindo ou causando a manifestação objetiva\subjetiva de quem se inter-relaciona, também se estabelece como determinação formal, o desenvolvimento técnico e sua regulação no tempo\espaço, para ser mais exato, a obra se corporifica pela intenção criadora, pela artisticidade.

Para exemplificar e aprofundar considere-se o pensamento da escultora:

“Acredito que o artista está sempre dialogando (…) com o mundo em que vive. O artista faz parte da sociedade, discute com ela e através dela a sua vivência.” (Ana Godoy)

O bloco de acontecimentos que foram geradores do processo de pesquisa, de seus questionamentos, promove a dinâmica entre criação e resultado, entre a obra e a percepção, material estudado e forma apresentada, exposição e interlocução dos espectadores. A temática propositada é uma revelação de formas construídas, presente na realidade do espectador em seu permanente fluxo pela cidade. Estão presentes e intercambiados de signos a essencialidade motivadora que promoveu o argumento conceitual da artista, a arquitetura de praças e parques, de espaços públicos da cidade de Curitiba, que no processo de pesquisa foram visitados, fotografados e processados para a sua reconstrução.

A posição da artista se dá como pesquisa de elementos da espacialidade, ocupado de variados materiais que por etapas foram fundadores do conceito. Para realizar a obra artística, Ana Godoy conheceu os ambientes em diferentes ângulos utilizando-se da fotografia como base estruturante.

Em seu fluxograma de processo, vários elementos somaram-se à pesquisa, fotografia, desenho, argila, forma, contra-forma com vários materiais, corantes, resina, polimentos, acabamentos finais, encaixes variantes para condução do processo criativo, além da historiografia dos ambientes, funcionalidade, definições arquitetônicas, visitas perceptivas, modelagem em massa compacta, determinação de espaço no atelier para a atividade construtiva, ensaio de cores, aprofundamento em teoria da arte, entre outras etapas, para a execução e finalização do trabalho.

A paisagem incide sobre o acontecimento estruturado dos espaços arquitetônicos e se definem na obra, se integram não apenas como coadjuvante, mas como parte incisiva do momento explorado. Assim se revelam escadarias, bosques, calçadas, nuvens, lagos que interpelam a obra e sua capacidade de abstração no espectador.

O sentido estético se dá também pelo construto, onde a matriz essencial da obra em sua posição formal abre leques de possibilidades, mas se mantém rígidos na proposta.

“Acredito que os vestígios da ação processual, do interesse estético e da motivação sensorial consumam a interlocução entre a obra e o espectador.” (Ana Godoy)

O sentido de arte contemporânea pesquisado, de uma partição do espaço escolhido, se estabelece na modernidade como variante do olhar dos que vivem o espaço urbano. A construção de uma identidade que se revela fragmentada devido aos vários acessos que são possíveis suscitar pelo olhar, pela interferência da obra em reambientar na forma as variáveis fluidias que a artista oferece na escultura. O que está esculpido não é tão somente forma, para o delineamento contemplativo, mas os ângulos estudados que se incorporam e conceituam a investigação. Nesse sentido, a arte contemporânea promove uma discussão sobre o tempo histórico, a utilização dos materiais, o processo de realização da arte, e a evidente necessidade de se conceber a poética do artista.

Um dos caminhos para o olhar da obra de Ana Godoy se estabelece pela repetição e proporcionalidade das esculturas em suas definições geométricas, abrangendo o que as formas fazem emergir em sua referência aos espaços, como se dá, portanto, a sucessão fragmentária desses acontecimentos que foram materializados na obra, e assim a percepção estética percorre meandros que se intercambiam para a obra como um todo, e promove também a sua contemplação. A arte torna-se conceitual, crítica, reflexiva, uma arte em processo, exige o pensar e o sentir, perceber e interagir. São ângulos diversos sob temáticas muito próximas, mas disjuntivas, separadas a nos propiciar a integração do que percebemos do que está materialmente presente.

A comunicação artística é subjetiva, presente no lastro sensível e técnico, faz-se necessário o olhar liberto, para então surpreendido, o observador tornar-se capaz de discernir e compreender a configuração do entrelaçamento significativo. A arte reinventa a realidade geral, a conformação econômica do mundo e sua moral, coloca o sujeito sob pressão promovendo suplementar a condição para se relacionar no seu tempo, com a sua cultura.

A concepção artística em Ana Godoy, com suas esculturas de Matéria Etérea, dissolve o óbvio arquitetônico e nos encaminha a enlaçar nossas vivências, sentidos da vida a acompanhar as evidências, o jogo, o insólito e a sermos, por fim, pegos pelas armadilhas do tempo.

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Pedro Moreira da Silva Neto
Prof. de Metodologia do Ensino da Arte, curador da exposição.
Mestre em Políticas Públicas e Gestão da Educação, UTP/PR. Atua na área da arte, sendo ator e diretor teatral, professor de Educação Comunitária, Ética e Cidadania. Desenvolve trabalhos em Pedagogia Social Comunitária, atua em educação continuada, liderança, história do caderno escolar, criatividade e artes.